A música no Cinema e na vida
Quantas vezes não é uma música que nos salva?, que nos anima?, que nos vem lembrar que ainda há surpresas à nossa espera?
Alguns sons, uma voz, e voltamos a esse lugar mágico! Uma claridade que não sabemos definir. Deve ser a nossa própria claridade que transportamos connosco, mas de que nos esquecemos até alguma coisa nos lembrar o essencial de nós.
A música é uma delas. Uma coisa essencial.
A primeira coisa que conhecemos é um som ritmado, o som de um coração que bate. Embala-nos desde o início.
Em muitos momentos determinantes da minha vida a música esteve sempre presente. Acompanhou-me de perto, de muito perto. Como se marcasse o ritmo dos meus pensamentos, a minha respiração. Como se marcasse as cenas do filme em que se foi tornando a minha vida, às vezes David Lean, às vezes Frank Capra, mas também às vezes Woody Allen (embora eu o contrarie)... Só espero é que o Ingmar Bergman nunca me apanhe...
O Cinema sempre entendeu a importância da música porque desde o início se fez acompanhar por ela. E logo desde o início, antes do sonoro.
Com a música as cenas adquirem outra intensidade e também outra densidade.
Há algumas músicas de filmes que me fascinaram desde logo e que ainda são as minhas preferidas. Como estão ligadas aos filmes, irei falar de cada uma em próximos posts.
Hoje é só para lançar este desafio:
Quando virem ou revirem Immortal Beloved, sobre a vida atribulada de Beethoven, reparem na importância da música como expressão da agitação interior e dos sonhos originais, que aqui permanecem vivos, apesar do sofrimento, da solidão e da decadência.
Beethoven é um exemplo comovente de um génio que ultrapassa a maior limitação de todas para um compositor: a surdez prematura. No seu caso, as notas musicais são mentais. As suas últimas composições já não lhe eram acessíveis: ouvia-as mentalmente. É esta a dimensão do seu génio.
Mas Beethoven também ultrapassa a pior limitação de todas: a ausência de paixão. A paixão está ainda viva nas suas composições, mesmo perto do fim.
Reparem bem nessa correria da criança ao som do Hino à Alegria, nessa noite de estrelas, a fugir da violência paterna e a encontrar refúgio no reflexo universal de mil pontinhos luminosos, nesse lago muito quieto.